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domingo, 16 de janeiro de 2022

HOTEL O NAZARENO

HOTEL "O NAZARENO":

Um lugar quase mal-assombrado


Vida de nômade
    
  Alguns amigos me chamam de nômade, pois não gosto de demorar muito tempo em nenhum lugar. 

  Morei em vários bairros da minha cidade - só no Cabo Branco morei em três locais: no edifício Beira-mar, numa casinha em um grande terreno cheio de coqueiros no finalzinho da avenida (cuja frente dava para a praia e os fundos para a barreira, bem próximo a uma casa redonda) e no hotel desta história. Morei em três lugares na praia de Camboinha; morei em Cabedelo; morei em Tambiá (recém-nascido), vizinho ao clube Astréa, onde hoje é um hospital.  Morei em vários lugares no centro da cidade;  em Jaguaribe; morei no bairro Expedicionários (onde passei parte da infância e início da adolescência); no bairro Tambauzinho, no Bairro dos Estados (na casa da minha mana Márcia e do cunhado Kaplan); morei em Tambaú; morei no bairro do Bessa (entre 1979 e 1986) onde voltei a morar atualmente. Casei e me juntei um bocado de vezes, então cada separação era uma mudança - vida nova casa nova - além de algumas poucas vezes por falta de pagamento mesmo, pois vida de artista é que nem rapadura: é doce mas não é mole não... Morei também noutras cidades: Cabedelo, na praia de Camboinha, em três lugares diferentes; Salvador-BA, Santa Rita-PB, Natal, Barra do Maxaranguape (foragido e disfarçado) e Mossoró-RN; na granja Humaitá (nos anos 80, do meu pai, que fez uma casinha para mim entre as árvores frutíferas que me forneciam o café da manhã ao alcance da mão, além da vacaria onde bebia o leite fresco (foto logo abaixo).
Era próxima a Muçumagro, perto do conjunto Valentina de Figueiredo, que na época era uma mata. Quando criança íamos todos os finais de semana para a granja, onde tomei muito banho de açude escondido e já aos oito anos de idade cavalgava por toda a região, até a "barra" do rio Gramame).

Minha casinha de campo

 Passei uns tempos escondido na  fazenda "Sonho Meu", do meu irmão Carlos, entre Olivedos e Cubatí, também na Paraíba, próximo a Soledade. 
Isso tudo sem falar em alguns ambientes que jamais poderiam ser chamados de residências...

  Pois bem, em mais uma dessas incontáveis mudanças de minha vida  nômade, morei no hotel "O Nazareno" uns poucos meses, entre o final de 1987 e o começo de 1988.
Localizava-se em João Pessoa, Paraíba, no altiplano Cabo Branco, à beira da estrada que passava entre ele e o precipício da barreira, próximo da ladeira de acesso à "Ponta do Cabo Branco". Um pitoresco e bucólico lugar, porém longe de tudo. Ao redor só havia mata; transporte coletivo só lá embaixo, a beira-mar - aí, quando necessário ou para caminhadas na praia, descia por uma perigosa trilha, segurando-me nos galhos dos arbustos e nas raízes, para evitar o longo percurso pela estrada que dava acesso ao terminal dos ônibus, ao pé da ladeira. Mas eu tinha a minha moto e transporte não era problema.

Minha Yamaha DT 180, na época que eu morei na granja, com a qual eu só não consegui subir em árvores...

(coloquei o link para o mapa do local no final desta publicação).

  A beleza austera do antigo Convento dos Capuchinhos (como todos chamavam o "Convento da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos") não mais existia... Como na época quando meu irmão Carlos lá se casou, no final dos "anos 60", em belíssima e concorrida cerimônia - apesar do dificílimo acesso ao local naqueles tempos - numa linda e romântica noite de lua cheia.

 

  Quando me mudei para lá, o local já estava decadente, desfigurado pelas inúmeras reformas para os mais variados usos que dele fizeram - já não era mais convento nem seminário há tempos. Já estava quase em ruínas; a piscina "fechada", cheia de uma gosma verde de lodo; sem restaurante, apenas um funcionário medroso invisível à noite (ele tinha medo de assombração - o lugar dava margem para esse tipo de coisa mesmo, à noite, com suas portas batendo, passos inexplicáveis e os assobios arrepiantes do vento que sugeriam sussurros) e o próprio proprietário, um homem muito estranho, que, mesmo sendo um milionário dono de quase todas as terras da região, visitava o local todos os dias, muitas vezes substituindo o porteiro para não ter que pagar outros funcionários. O "misto" de zelador e porteiro caía fora à noite, abandonando o seu posto, sem o patrão saber, para dormir em sua casa, nas proximidades. 


  Foram incontáveis as noites que eu sabia que era o único ser humano naquele edifício enorme, apesar de ter certeza que não estava sozinho...

  

  Apenas cinco apartamentos estavam operacionais, muito precariamente, no primeiro andar daquela ala voltada para o mar (inclusive o que eu alugara) alugados mensalmente por sujeitos separados recentemente e ocupados ocasionalmente por casais "desavisados". O restante do prédio estava abandonado, nada funcionava (acho que havia uma questão na justiça entre o proprietário e a Ordem dos Frades Capuchinhos - que construiu o prédio no terreno cedido por ele, creio eu - ou ele queria vender o local, daí deixou chegar a esse estado). 

Aluguei  também duas salas no segundo andar abandonado e lá instalei meu atelier e cozinha.

  

  Eu apelidei o estabelecimento de "hotel bom Jesus": de dia falta água e de noite falta luz... Fiquei por lá até a casa que eu esperava na praia de camboinha desocupar e eu voltar para lá. 

  

  Mas medroso não passava mais de um dia ali... Quando alguém chegava para se hospedar eu ficava na espreita, me divertindo com as reclamações que o porteiro "faz tudo" recebia. Uma vez eu disse a um desses incautos: "Você ainda não viu nada... espere a noite chegar. Este prédio foi um convento dos Capuchinhos e morreram muitos frades aqui, dá para escutar o arrastar das suas sandálias, à noite." Geralmente o sujeito pagava a conta e dava nos pés. 

  

  Eu me habituei com os barulhos esquisitos, pois nunca tive medo de almas penadas (mas sei que elas existem). Nunca cheguei a ver vultos nem coisas desse tipo. Mas sentia algo no ar. Foram inúmeras as vezes que notei sutis mudanças em pinturas que estavam em andamento - alterações para melhor, ainda bem... objetos que sumiam e depois apareciam no mesmo lugar... esse tipo de coisa... Como na época eu às vezes fumava uns baseados ou calibrava no whisky,  não dava muita atenção... rezava e que Deus tomasse conta! O que sei é que se o lugar era mal-assombrado era só para os outros, pois para mim deu muita sorte. Pintei e namorei bastante lá; em noite de lua cheia, vinho e queijos na torre do mirante (na quina do edifício, à direita, na laje, junto da caixa d'água que se vê na primeira imagem), de onde se avistava até Cabedelo, lá ao longe. Nunca fui realmente incomodado pelos fantasmas; acho até que me protegeram de ladrões frouxos que poderiam ter invadido o local - quase desabitado e sem a mínima segurança.


  O "Dia D" que decididamente fez com que eu me mudasse às pressas daquele lugar esquisito e nefasto foi quando escapei por pouco de um assalto... Ia chegando à noite, na moto, quando escutei tiros e pessoas correndo. Acelerei e entrei no mato por trás da área da piscina e me escondi. Depois, quando voltei, com movimento da polícia e da ambulância, soube que os assaltantes levaram um carro e feriram o seu proprietário (o episódio foi bastante divulgado na imprensa e os bandidos usaram o automóvel para outros assaltos; a vítima que estava no hotel ainda teve que se entender com a esposa, pois não era ela a que estava com ele na ocasião). Ainda bem que me mudei na mesma semana. 


  Tempos depois, abandonado, o local foi invadido por "Sem Tetos" e tornou-se um imenso e insalubre cortiço. 


  Hoje em dia está reformado e transformado em área de recepções e de lazer de um condomínio de luxo - cujos moradores nem de longe imaginam o que já aconteceu entre aquelas paredes...

Veja no GOOGLE MAPS



  

  Mas vivi bons momentos de amor e de inspiração lá; a tranquilidade e  a impressionante visão panorâmica compensavam quaisquer contratempos e os fantasmas não me incomodavam - talvez por serem de antigos frades Capuchinhos, homens bons, de uma estirpe totalmente diferente da desses "fantasmas"  muito vivos que infestam os gabinetes da maioria dos políticos brasileiros.


  E tenho certeza que as minhas tórridas noitadas de amor no antigo convento eram bastante apreciadas pelos entediados e castos fantasmas, pois o silêncio era total nessas ocasiões - nada de ruídos esquisitos nem arrastar de passos... apenas os nossos próprios sussurros e gemidos...





NOTA DE RODAPÉ

Apesar de não seguir nenhuma religião, pois prefiro conversar diretamente com o Divino, gosto de pesquisar o assunto, na tentativa de diminuir a minha própria ignorância.

Convento, Mosteiro e Seminário

Convento, do latim conventu(m), ajuntamento, é o edifício habitado por pessoas religiosas que vivem em comum e como irmãos. Chamam-se frades (irmãos) e freiras (irmãs).

Mosteiro, do grego monastérion, de monázo, viver só, é aquele edifício religioso onde vivem os monges ou as monjas, governados por um abade ou uma abadessa. O mosteiro dá-nos a ideia de solidão. Sabemos até que havia mosteiros em que os monges levavam vida contemplativa, e eram construídos fora dos povoados.

Seminário é um local onde jovens ficam ou passam com objetivo de estudar para se tornarem Eclesiásticos.

A vida religiosa nasceu, cresceu e se desenvolveu do húmus do Evangelho. Os três fundadores das Ordens religiosas anteriores a São Francisco (São Basílio, Santo Agostinho e São Bento) foram os organizadores deste modo de vida em comunidade. Eles coordenaram a experiência religiosa dos seus primeiros seguidores, à serviço da Igreja na pregação, educação, assistência aos doentes, vida de oração e penitência, estruturando essa experiência num contexto eclesial organizado e institucionalizado em fraternidades. Assim, nascem as instituições de religião, denominadas: instituição de religião eremítica (São Basílio); instituição de religião canonical (Santo Agostinho); instituição de religião monástica (São Bento); e mais tarde, a instituição de religião apostólica (São Francisco de Assis).

A instituição eremítica caracteriza-se pelo abandono do mundo, para viver somente para Deus e por Deus. Porém a vivência eremítica não é total. Nessa instituição, os seus membros vivem momentos de afastamento (solidão) e momentos comunitários (laura + cenóbio). A laura expressa a forma de vida dos que passavam a maior parte do tempo nas grutas, em meditação, contemplação, vida de jejum a pão e água, penitência e artesanato. O cenóbio expressa a forma de vida comunitária, ao redor do mosteiro. Significa que os monges passavam durante a semana nas grutas e no sábado, voltavam ao cenóbio para celebrar a liturgia, o encontro fraterno e reabastecerem-se de material necessário ao artesanato, pão e água para mais uma semana vivida nas grutas e cavas do deserto. Ainda hoje encontramos eremitérios neste estilo de vida, sobretudo na Palestina, na Grécia e em outros locais, onde os monges vivem parte do tempo em grutas e parte do tempo em comunidade.

A instituição canonical sistematiza-se pelo seu estilo clerical, sendo religiosos presbíteros, dedicados aos trabalhos apostólicos. Exemplo disso são os canônicos de Santo Agostinho.

A instituição monástica evidencia-se pela renúncia da família por causa de Cristo. Em compensação, a oferta da ajuda fraterna faz com que os seus membros dediquem-se em ser dom aos irmãos. Sustentar a fragilidade dos irmãos do mosteiro é desafio constante. Toda a responsabilidade na condução deste modo de vida recai sobre o Abade. Os seus membros ao professarem os votos, destinam seus bens ao próprio mosteiro. A pregação, por sua vez, somente é possível com o mandato do Abade. O monge que recebe esse mandato, permanece como monge, mesmo tendo recebido uma missão temporária no meio do povo de Deus. Exemplo disso podemos encontrar nos monges beneditinos.

A instituição apostólica tornou-se uma novidade no cenário das instituições tradicionais na época medieval. Francisco de Assis era uma pessoa muito simples, despreocupado com a vida organizada em mosteiros ou outras estruturas de seu tempo. A sua pretensão era formar uma fraternidade, composta de Frades Menores, tanto leigos, quanto clérigos. Existiam outras estruturas, bem organizadas, que favoreciam todas as condições para alguém que quisesse ser religioso, tais como a estrutura eremítica, canonical ou monástica. A estrutura monástica, por exemplo, já era configurada na história da Igreja por vários séculos, com a sua famosa stabilitas loci, favorecendo um programa estável de habitação, louvor a Deus e trabalho (ora et labora). Os monges entravam no mosteiro e recebiam todo o conforto necessário ao seu bem temporal e espiritual, sempre sob o regime estável de governo do abade. Neste estilo de vida não faltava nada ao candidato. Além do mais, já era devidamente reconhecida a sua estrutura jurídico-canônica, sem correr o risco de caminhar paralelamente à comunhão eclesiástica, em confronto com os movimentos heréticos da época. Francisco não entrou numa destas estruturas do seu tempo, porque não se encontrou naquele ideal de vida, fechado, enclausurado. Inspirado por Deus, preferiu seguir um estilo de vida itinerante, que fosse além das muralhas de Assis, além dos confins de uma diocese ou de um mosteiro medieval. Indo a Roma, recebeu a aprovação da Igreja, acontecendo assim a fundação da Ordem dos Frades Menores.

Os ramos femininos da vida religiosa consagrada brotam do desmembramento destas instituições, formando assim as ordens ou congregações contemplativas ou apostólicas, de acordo com a tradição do seu fundador ou nas novas propostas, reconhecidas e aprovadas pela Igreja.

O Convento é confundido, muitas vezes, com Mosteiro.

A raiz inicial da diferença entre Convento e Mosteiro está relacionada com a sua fundação, ou seja, os frades vivem desde o início em Convento e os monges, vivem em Mosteiro. No Convento, os frades se reúnem temporiariamente para a vida fraterna em comum (oração, partilha dos trabalhos internos e externos, momentos de recreação). Vivem em modo diferenciado dos monges, porque a vida dentro do recinto do Convento é passageira, uma vez que a missão dos frades é itinerante. Já os monges vivem na estabilidade quase absoluta dentro de um Mosteiro. No Convento existem frades (freis) não ordenados ordenados (irmãos) e frades ordenados. Cada um segue a vocação a um chamado, seja para os ministérios não ordenados, seja para os ministérios ordenados. No Mosteiro encontramos a mesma configuração, relacionada ao sacramento da ordem ou não, ou seja, existem monges irmãos e monges sacerdotes. O guardião é o superior do Convento. O abade é o superior do Mosteiro.


Fui beber nas seguintes fontes:


PARÓQUIA VIRTUAL (FREI IVO MÜLLER)
http://paroquiavirtualfreiivo.blogspot.com/2010/08/diferenca-entre-convento-e-mosteiro.html?m=1

CIBERDÚVIDAS
da língua portuguesa
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/mosteiro-e-convento/818