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sábado, 9 de setembro de 2023

UM DESFILE DE 7 DE SETEMBRO

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DESFILE DE 7 DE SETEMBRO:
UM ESTRANHO NO NINHO


Na imagem, entrando de gaiato no desfile de 7 de setembro, em um grupo escolar no distrito de Gramame, PB, nas proximidades da nossa granja, nos anos 60 (na foto, sou o menino com um conjuntinho tipo "safari" diferente dos demais e com  botas tipo "fole"). Reconhecendo uns alunos na formação para desfilarem, amiguinhos de brincadeiras e pescarias nos açudes da região, desci do cavalo que me levara até ali, amarrando-o em uma árvore e não pensei duas vezes...

Esta imagem abriu o meu baú de memórias da época, me fazendo flutuar por algumas delas...
Desde criança eu fazia longas e solitárias cavalgadas dentro e fora do "perímetro" permitido pelos meus pais. Todos os finais de semana nós passávamos naquele sítio; chegávamos na sexta-feira à noite e voltávamos para João Pessoa na segunda-feira bem cedinho.

Como era bastante conhecido na região como o filho "fim de rama" de Dr Isaías e de D Marieta, eu tinha livre acesso às granjas, sítios e fazendas da região - principalmente a fazenda Cuiá, com seu belo casarão de dois andares, que existe até hoje, logo depois de atravessar a ponte do rio Cuiá, no alto da ladeira, do lado direito, onde às vezes eu avistava uma linda loirinha que eu achava que era uma princesa - era a neta do fazendeiro. Todas as vezes que eu visitava essa fazenda era na esperança de revê-la... mas éramos muito crianças. Ali havia enormes e belos açudes e uma espécie de quilombo, pertinho do rio Cuiá, com belíssimas casas de taipa e palha muito bem feitas e com "pé direito" altíssimos, diferentes dos casebres comuns na região, que eu admirava e onde era muito bem recebido (sempre me serviam um "beiju", espécie de tapioca mais grosseira assada no assoalho do próprio forno de pedra durante o preparo da farinha, na "casa de farinha" deles); o local me lembrava as histórias da África que eu tinha na minha imaginação (ainda não tomara conhecimento dos horrores da escravidão no Brasil) e para mim era uma aventura, pois tinha que percorrer um longo trecho dentro da mata - onde hoje é o conjunto habitacional Valentina de Figueiredo, mas na época a região era toda rural - havia o pequeno lugarejo chamado Gramame (próximo da "Ponte dos Arcos", nas imagens abaixo, que atravessa o rio homônimo até os dias atuais e cuja estrada se liga à BR-101 e à que leva até a cidade Jacumã) e mais a leste, no caminho das praias de Camurupim (hoje Praia do Sol) e Barra de Gramame, outro lugarejo com duas fileiras de casa chamado Muçumagro  (onde na pré-adolescência frequentara um forró perto do cemitério, saindo da granja à noite, escondido, pulando a janela do meu quarto, quando meu pai e minha madrasta estavam dormindo. Ia com as empregadas e alguns filhos dos moradores, andávamos uns 4 quilômetros, ora sobre a luz do luar ora apenas guiado pelas estrelas - uma vez tivemos que pular uma cobra que estava atravessada no caminho... Mas, depois de algumas idas e vindas, fui flagrado na volta, entrando pela janela do quarto. O fim da farra não foi muito agradável...).




Cavalgava por todos esses lugares sempre sozinho, era conhecido por todos e sempre bem recebido, pois o pessoal respeitava muito papai, que além de ser um médico que socorria muita gente dali era um homenzarrão brabo pra dedéu! Hoje tudo isso é área urbana e faz parte da grande João Pessoa.


Bruno Steinbach. "Barra de Gramame" . 
Óleo / tela, 40 x 50 cm, dez 2006, 
João Pessoa, Paraíba, Brasil. 
Coleção: Maria João Pires, Salvador - Bahia.
Da série PARAHYBAVISTA - AGONIA E ÊXTASE

Sempre visitava a fazenda Camurupim, que se estendia até à beira mar, com uma longa praia que se prolongava até a Barra de Gramame. Era administrada pelo Sr. Edésio Chianca, solitário e interessante personagem, sogro do proprietário e pai do marido da minha irmã Norma, que eu adorava quando vinham de Brasília nos visitar - foram fundadores daquela cidade (todos já falecidos). Quando ele passava por mim pilotando o seu trator, fazia sinal com a mão para que eu o seguisse, reduzindo a velocidade; então eu almoçava as deliciosas peixadas que ele preparava em panelas de barro no seu fantástico fogão a lenha. Lá ele também tinha umas casas parecidas com as casas de "Jim da Selva" (personagem dos meus tempos de menino, que substituiu o "Tarzan" interpretado pelo já "maduro" Johnny Weissmuller). Uma era a sede, próxima dos galpões, estábulos e demais dependências dos funcionários - pois ali funcionava um projeto da Sudene - e a outra, que ele chamava de palacete de verão, à beira mar (na foto abaixo, onde hoje está tudo ocupado por barracas e bares). Todas as duas eram verdadeiras cabanas, feitas de troncos de coqueiro, bambu e palha muitíssimo bem trançada; tudo muito rústico, realmente pareciam recém saídas de um cenário de um filme de Tarzan ou de Jim da Selva - exigências do próprio Edésio, que adorava viver assim.

Bebendo água de coco no "Palácio de Verão". Meu cunhado José William Chianca (descascando cocos), seu pai Edésio Chianca e eu.

Essa recordação daquele local me fez mergulhar literalmente em outra lembrança: décadas mais tarde, já adulto, em uma escapadela "permitida" de um lugar onde ninguém deve sair, tomei um delicioso é inesquecível banho de cuia dado por uma linda cabocla que me visitara no tal lugar de reclusão e me convidara para conhecer o  seu estabelecimento em um dia de semana, quando não havia fregueses nem gente por perto, além de facilitar justificar-me legalmente para a saída (cá entre nós).  Ela era nativa de uma comunidade ribeirinha do outro lado do Rio Gramame  e proprietária de um dos quiosques que funcionava como bar, no mesmo local onde existira a cabana de praia do Sr. Edésio, a que me referi mais acima. Ela era muito jeitosa e tivera a iniciativa de fazer atrás uma área particular de banho, a céu aberto, com arbustos formando uma cerca de privacidade e com piso de pedras ao redor da dita nascente, criando uma banheira natural, com fundo arenoso, que acolhia perfeitamente um casal namorando e cuja água desaguava na já citada laguna.
Ah! Que delícia! Que maravilha é ter uma boa memória e que riqueza ter boas lembranças para recordar esses tesouros tão bem guardados - mesmo em tempos às vezes extremamente difíceis!
Mas vamos voltar novamente aos tempos inocentes de menino - "pero no mucho"...

Às vezes me demorava mais do que devia nesses passeios e, no amargo regresso para nossa granja, quase à noitinha, sempre havia um cipó "reservado para meu espinhaço" - mas valia a pena!

Durante uma dessas escapadelas da nossa granja Humaitá, apeei do cavalo e entrei no desfile de 7 de Setembro, organizado por um grupo escolar de Gramame, como comprovado na foto, onde encontrei vários filhos dos moradores das redondezas e coleguinhas de brincadeiras. Horas depois, papai mandou me buscar. O cabo da polícia (que era o "delegado", à época era assim) foi informado pelo esperto autor desta foto e enviou um soldado em um jeep até a granja de papai para avisá-lo do fato; um trabalhador da granja voltou a Gramame com o soldado, encarregado de buscar o cavalo, e em seguida voltei para casa em "um jeep com um cabo e um soldado". 😉
Algum tempo depois o fotógrafo sabido apareceu na granja para vender a foto 😂.
Parece que o modelo de cabelo está na moda novamente (rss).

Eu ia fazer essa publicação no dia 7, mas fiquei assistindo ao belo e civilizado desfile cívico-militar em Brasília e me esqueci. Aliás, o evento foi beneficiado com a ausência dos idiotas brucutus que confundem o "Dia da Pátria" com comício, fazendo um carnaval de baixarias, patifarias e baderna, em adoração a um falso messias, um cafajeste chamado de mito que eles elegeram - o que confirma a tese de Nelson Rodrigues que "os idiotas são a maioria da humanidade". E onde estava o povo? - perguntam os cretinos. Ora, estava em seu devido lugar, assistindo às comemorações de forma ordeira e pacífica, pois é assim que funciona entre gente civilizada.

Destaco aqui a participação representativa dos garis brasileiros, a peculiar homenagem da tropa formada por indígenas, sediada na Amazônia, a presença dos representantes de todos os três poderes e de todas as forças armadas (um simbólico gesto de união e pacificação) e a belíssima apresentação da nossa querida "Esquadrilha da Fumaça". 

E fica aqui o meu desejo - talvez um sonho utópico - de que doravante as manifestações públicas não contem com turba de cretinos, brucutus truculentos e bagunceiros, extremistas, religiosos fanáticos e idiotas. Quiçá, voltem para os esgotos, de onde jamais deveriam ter saído, e que jamais voltem a tentar estuprar a nossa adolescente democracia.