VIVA O NORDESTE!
NORDESTINO SIM SINHÔ!
Tenho orgulho de ser paraibano, nordestino e brasileiro!
"O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas,
copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos
outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades."
(Gilberto Freyre)
Bruno Steinbach. "PARAHYBAVISTA (SANHAUÁ, PORTO DO CAPIM e VARADOURO), opus I".
Painel em acrílica/tela, 120 x 194 cm. Parahyba, dezembro de 2013.
Acervo: Tribunal de Justiça da Paraíba. João Pessoa, Paraíba, Brasil.
Obra patrocínio PARAHYBAVISTA.
ATÉ QUANDO NORDESTINOS TERÃO QUE EDUCAR O BRASIL?
O PIOR IGNORANTE É AQUELE QUE NÃO QUER APRENDER!
Paulo Freire e
Gilberto Freyre (pernambucanos de Recife), Câmara Cascudo (natalense) e Celso
Furtado (paraibano de Pombal) bem que tentaram... Mas é tarefa difícil ensinar
civilidade para brucutus!
Novamente a mídia traz à tona o
"Preconceito contra nordestino". Só gente muito tosca, ignorante e
burra pode discriminar quem nasce no nordeste; pessoas que nem sabem quem são
seus pais, talvez até um cabra macho paraibano "do pé grande"... E nordestino não é uma "raça"; aqui tem branco, preto, amarelo,
índio, europeu, pobre, rico, brucutus, damas e putas, gente honesta e ladrão,
igualzinho ao resto do país. Falar na televisão contra nordestino é até
irônico, pois quem trouxe essa "caixa das ilusões", a TV, para o
Brasil foi ninguém menos que o "Paraíba" da gema Assis Chateaubriand,
que ainda mandou construir e equipar o Museu de Arte Moderna de São Paulo -
MASP (contratou Pietro Maria Bardi e a sua esposa arquiteta para a tarefa).
Se liga aí, brucutu idiota que fala
mal de nordestino.
Vai estudar, senão acabará no nosso
roçado cortando cana pra gente...
Bruno Steinbach Silva. "Cabo Branco, opus IX".
Acrílica/tela, 60 x 100 cm. Abril de 2016, Parahyba, Brasil.
Da série temática PARAHYBAVISTA.
De tanto ouvir e
ler comentários levianos sobre o nordeste e os nordestinos resolvi escrever
este artigo. Mais como um desabafo, pois os indivíduos que têm esse tipo de
comportamento talvez nem saibam ler direito, pois de história, etnia e ética já
mostraram que não entendem nada. São espíritos atrasados, almas sebosas...
Então resolvi publicar este artigo, reproduzido abaixo, extraído de texto
de Demétrio Magnoli (Os grifos são meus), com a
esperançosa intenção ou ilusão de jogar um pouco de luz na escuridão em que
habitam alguns brasileiros racistas, intolerantes, preconceituosos e
arrogantes, e, talvez, fazê-los parar – ou ao menos diminuir – a enxurrada de
tolices e maldades que despejam sobre nós, “os nordestinos".
Generalizam o
termo, como se fôssemos todos desocupados ou retirantes saídos das páginas de
"Vidas Secas" - de Graciliano Ramos (estigma alimentado durante
muitos anos pela mídia e pelos governantes locais; os primeiros, como protesto
social; os segundos, para alimentar a famigerada "indústria da seca"
- aproveitando-se da divulgação na literatura e no cinema, mendigando
verbas do governo federal, via sudene, e desviando essa dinheirama toda para
seus próprios interesses e dos seus correligionários, bem para longe do povo da
região, criando um enorme círculo vicioso). Seca essa que o Brasil assiste
impassível, de braços cruzados, deitado em berço esplêndido, sem corresponder à
solidariedade dos nordestinos, primeiros a atender e socorrer nas tragédias e
enchentes que anualmente avassalam o sul e o sudeste do país, muitas vezes
retirando o alimento da sua própria família para doar às suas vítimas. A
própria justiça se equivoca, às vezes, punindo alguns desses idiotas
"separatistas" por crime de racismo... Ora, nordestino não é uma
raça! Não temos conflitos étnicos no Brasil, pois somos mestiços, quer queiram
ou não, independente da aparência, nossos DNAS são mais misturados e batidos
que a nossa caipirinha! É sabido a contribuição histórica nordestina na "povoação"
do Brasil, "semeando" muito por todo o território nacional. Portanto,
grande maioria desses individuos descendem de nordestinos... Afinal, fomos
colonizados primeiro por aqui, depois é que o restante do Brasil foi colonizado... pelos nordestinos!
Satirizam o nosso
"sotaque"...
Ora bolas! E somos nós que falamos
"chiando"? Somos nós que dizemos "tchia" ao invés do
correto "tia"? Somos nós que falamos coisas "tchipo"
"de boa" e "coé"? Não, nós nordestinos não assassinamos
a gramática, com gírias, locuções esdrúxulas e conjugações verbais
inexistentes, como "eu devia ter "aceito". Não, nós falamos
cantando a alegria de viver e escrevemos corretamente e com elegância, fruto do
nosso aprendizado nas leituras dos nossos grandes escritores. Entonce, se
alguém fala errado e com sotaque, certamente não é o nordestino. Ignorantes há
em todo lugar do Brasil, não é um privilégio dos nordestinos,
"visse"... E, como já disse Ariano Suassuna: "Não troco o meu
Oxente pelo OK de ninguém - e ao redor do buraco tudo é beira".
Deixo aqui uma
sugestão para esses indivíduos preconceituosos:
Estudem um pouco de História e
Geografia do Brasil, a "básica" mesmo serve, essa que se ensina no
curso secundário, para não "forçar" muito seus poucos neurônios.
Aprendam com nordestinos de valor, como Celso Furtado (ilustre economista paraibano de Pombal, que, entre tantas outras contribuições ao Brasil, foi herói de guerra condecorado pela Força Expedicionária Brasileira, na qual lutou na Itália combatendo fascistas e nazistas genocidas; foi ele quem literalmente colocou o Nordeste no mapa do Brasil, depois de ser convidado pelo presidente Juscelino Kubitschek para elaborar o Plano de Desenvolvimento do Nordeste, que daria origem à SUDENE, órgão pelo qual foi responsável durante cinco anos, de 1959 a 1964 - antes dele não havia essa configuração do mapa de hoje), Ariano Suassuna (paraibano de João Pessoa), Epitácio Pessoa ( paraibano,
ex-presidente do Brasil), Assis Chateaubriand, conhecido como o co-criador e fundador,
em 1947, do Museu de Arte de São Paulo (MASP- Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateuabriand - quem diria, fundado e equipado por um "paraíba" -
junto com o italiano Pietro Maria Bardi, e ainda como o responsável pela
chegada da televisão ao Brasil, inaugurando em 1950 a primeira emissora de TV
do país, a TV Tupi (o que a ingrata midia "nacional" retribui com
descaso e omissão à grandeza de sua terra), o escritor José Lins do Rêgo (paraibano, autor do romance Menino
de Engenho), o também paraibano Pedro Américo (o maior pintor brasileiro de todos os
tempos), os cearenses José de Alencar e Rachel de Queiroz (Autora de destaque na ficção
social nordestina. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de
Letras. Em 1993, foi a primeira mulher galardeada com o Prêmio Camões,
equivalente ao Nobel, na língua portuguesa. É considerada por muitos como a
maior escritora brasileira), o natalense Câmara
Cascudo , os pernambucanos Luiz Gonzaga, João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, o alagoano Graciliano Ramos, os baianos Jorge Amado e Dorival Caymmi... E tantos e tantos outros nomes de escol: a renomada pianista franco-brasileira Juliana Steinbach, Zé Ramalho, Caetano veloso, Gilberto Gil, Fagner, Luiz Gonzaga... a lista é
interminável... Quem sabe, assim, parem de expressar tanta idiotice que na
verdade só depõe contra eles mesmos, ao exporem a própria ignorância e atraso
espiritual. Afinal, PRECONCEITO é uma forma de autoritarismo
social de uma sociedade doente. Normalmente o preconceito é causado pela
ignorância, isto é, o não conhecimento do outro que é diferente. O preconceito
leva à discriminação, à marginalização e à violência.
Bruno Steinbach. "Parahyba, opus I".
Acrílica/tela, 60 x 100 cm, 22 dez 2016. Parahyba, Brasil.
Coleção: Lourdes Bonavides Mariz Maia. Recife (PE).
Obra patrocínio Parahybavista.
Mas vamos ao texto de Magnoli:
Regionalismo e preconceito contra o nordestino
Por Demétrio Magnoli
(Do livro: Identidade Nacional em
debate, vários autores, Ed. Moderna, pág. 119-125)
1 – O Regionalismo
nordestino
O Regionalismo nordestino nasceu e
evoluiu como reação ?nbsp; decadência do Nordeste. Do ponto de vista histórico,
surgiu no início do século XX, junto com o deslanche da industrialização no
sudeste. Do ponto de vista social, configurou-se como atitude política das
elites regionais, que jamais se difundiu profundamente entre a população. Do
ponto de visa estratégico, caracterizou-se por reivindicar ajuda federal ?nbsp;
região, sob a forma de obras públicas ou proteção para empresas e produtos. O
seu argumento central sempre foi a pobreza regional, geralmente associada ao
fenômeno climático das secas...
O discurso regionalista e as
respostas federais pariram o principal mito sobre a pobreza do Nordeste: o mito
das secas.
As secas, do ponto de vista
meteorológico, não são um mito. O mito consiste na noção de que esse fenômeno
natural seja o responsável pelo drama social da população. A artimanha do
Regionalismo elitista consistia em esconder as causas sociais da miséria pelo
recurso a uma condição climática. ... Dessa forma, as elites econômicas
e políticas do nordeste encontraram um álibi para fugir á própria
responsabilidade histórica pela pobreza e, ao mesmo tempo, uma argumentação
para o desvio de recursos federais para a realização de obras públicas regionais.
Evidentemente, os benefícios traídos por essas obras jamais chegaram ?nbsp;
maioria da população nordestina, tornando-se fonte de enriquecimento privado
das minorias privilegiadas...
Das "obras contra as secas"
aos incentivos fiscais: mais de meio século de políticas regionais revelou-se
incapaz de transformar o panorama de pobreza do Nordeste. Mas o discurso
regionalista das elites continua em funcionamento, operando sempre o velho
argumento do "bolsão de pobreza". Essa noção – de que o Nordeste é um
"outro país", a Índia confrontada com a Bélgica, o lado esquecido do
Brasil – camufla o abismo social que separa as elites nordestinas da população
regional. A palavra Nordeste, uma noção espacial que se pode desenhar sobre o
mapa, serve como esconderijo para as elites regionais, que se apresentam como
representantes dos miseráveis e dos excluídos.
Bruno Steinbach. "Sagarana na Pedra do Reino de Ariano Suassuna e Guimarães Rosa".
Pintura em óleo/tela, 80 x 163 cm. Dez 2012. João Pessoa, Paraíba, Brasil.
Coleção: Peterson Martins. João Pessoa, Paraíba, Brasil.
2 – A Bósnia não é aqui
O Regionalismo nordestino
desenvolveu-se sobre o paradoxo de ser um discurso elitista cujo argumento
central sempre foi a pobreza. Esse paradoxo contribuiu para o surgimento e a
difusão de um outro discurso: o do preconceito antinordestino.
O preconceito antinordestino existe
desde os tempos antigos, como expressão do racismo. A participação majoritária
dos negros e mulatos na população do Nordeste, que contrasta com a hegemonia
dos brancos no Sudeste e, em proporção maior, no Sul, reflete a história da
escravidão e da imigração européia no Brasil. Aí se encontram os fundamentos do
preconceito tradicional antinordestino....Porém, o preconceito antinordestino
atualizou-se aproveitando o próprio Regionalismo das elites do Nordeste. No
Sudeste, difusamente, desenvolveram-se atitudes preconceituosas contra os
migrantes provenientes dos estados nordestinos. A atitude
preconceituosa enxergou nos fluxos de nordestinos o espectro da invasão da
pobreza, em vez de enxergar o papel desempenhado pela mão-de-obra migrante no
crescimento econômico do Sudeste. Desde a década de 1970, diversas
prefeituras do interior paulista passaram a recolher, nas estações rodoviárias,
os migrantes recém-chegados, colocando-os em ônibus e despejando-os em cidades
vizinhas. Em 1990, chegou a tramitar na Câmara Municipal de São Paulo um
projeto de lei destinado a impedir o uso de serviços e equipamentos municipais
por migrantes com menos de dois anos de trabalho e residência comprovados na
cidade. (Observação: este projeto teve como autor o ainda vereador municipal
Bruno Feder, atualmente do PPS, partido do ex-prefeito Paulo Maluf).
No Sul do país, na última década, o
preconceito antinordestino assumiu a forma virulenta do separatismo. Os
movimentos separatistas sulistas, em geral baseados no Rio Grande Do Sul,
chegaram a formular a reivindicação da Independência: República dos Pampas....
O preconceito antinordestino enxerga
no migrante o pobre. O separatismo sulista encara o nordestino como diferente.
Os separatistas postulam a existência de diferentes grupos étnicos ou culturais
no Brasil... A população do Sul, segundo essa visão, teria origens enraizadas
na imigração branca e européia, distinguindo-se dessa forma da população do
restante do país. Falsamente, apregoa-se a existência de diferenças étnicas no
interior da população brasileira. A armadilha vai mais longe, associando nível
de vida e origem populacional: o imigrante europeu aparece como a fonte do
trabalho e da riqueza, o nordestino como a fonte da preguiça e da pobreza.
O preconceito antinordestino e
o separatismo sulista constituem formas de mascarar a pobreza e a miséria, que
estão em todas as regiões. Os contrastes sociais intensos, presentes nas
metrópoles do Sudeste, são apresentados como fruto das migrações
inter-regionais, não como reflexo das estruturas socioeconômicas perversas
características de todo o país. A pobreza sulista – que transparece no fluxo
migratório de gaúchos, paranaenses e catarinenses rumo à Amazônia, e também nas
favelas e periferias miseráveis das cidades grandes e médias da região – é
obscurecida por um discurso que nega o óbvio: a "Índia", está em
todos os lugares, e até no Nordeste existem algumas "Bélgicas"...
A Bósnia não é aqui. Lá, uma história
muito antiga produziu divisões étnicas, culturais e religiosas que cindiram a
população bem antes da formação do Estado iugoslavo. Aqui, uma história muito
mais recente misturou populações de origem diversa em um único conjunto
nacional. No Brasil, as diferenças regionais (e estaduais, e locais...
) não são diferenças étnicas, mas apenas expressões dos ambientes diversos nos
quais se processou a história da nossa sociedade. Nordestinos, sulistas,
paulistas, cariocas: essas denominações refletem realidades geográficas, não
identidades étnicas. Talvez, por isso, o separatismo sulista não tenha, até
hoje, conseguido atear fogo na imaginação popular.
Ainda bem.
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