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A ARTE PRIMEVA DA HUMANIDADE: XAMÃ - PINTURA E FÉ NA CAVERNA!

domingo, 4 de julho de 2021

VIAJANDO PELO TEMPO NO ZEPPELIN PRATEADO: BARRA DE MAXARANGUAPE

   BARRA DE MAXARANGUAPE


  Sobrevoando o passado no meu ZEPPELIN PRATEADO* reencontrei a antiga caverna, meu refúgio em Maxaranguape, quase do mesmo jeito - de novidade apenas os coqueiros e ciprestes que estão maiores, o muro (antes era uma rústica cerca de varas com mudas de ciprestes) e um "puxadinho" lateral que não havia. Ah! E o asfalto cobrindo a antiga estrada de barro pouco usada quase sempre deserta à época e que por onde hoje transitam turistas do mundo inteiro.


  Era uma casa muito isolada; não tinha paz então não tinha nada. Apesar da tranquilidade e do isolamento do local (cheio de casas vazias, apenas ocupadas por veranistas poucos dias no ano), não encontrava a paz interior que esperara encontrar com outra identidade. Me escondi ali por 8 longos meses, enquanto se arrastava o ano de 1988... 


  Eu estava com um enorme peso nas costas, descobri que não foge da culpa quem dela tem consciência; resolvi regressar e enfrentar o que me esperava: o inexorável julgamento. Então, sozinho, iniciei a preparação para me prostar aos pés de Têmis e meu grande pecado pagar.


Era uma casa muito isolada: não tinha internet, nem telefone, nem rádio, nem TV, nem automóvel; levei uns livros - inclusive "100 Anos de Solidão" e "Memórias do Cárcere"; pintei muito nesse período... meu falecido irmão Marcelo, que morava em Natal, mensalmente vinha buscar o que eu produzira para a galeria de arte de uma grande amiga e marchand, ocasião que trazia material e dinheiro em espécie que me eram enviados por familiares de João Pessoa, pois não sabiam onde eu estava e ficou combinado que tudo seria resolvido através dele (pensavam que eu estava em uma fazenda no Ceará).
  

Caminhava muito pela praia todos os dias, descobrindo maravilhas da natureza, o lugar é belíssimo. Foragido, estava disfarçado e desconfiava até da própria sombra. Frequentava o canteiro de obras do farol do Cabo São Roque (ao fundo na foto da árvore), cuja construção literalmente acompanhei ao lado dos operários com quem fiz amizade - havia um que tocava violão e frequentemente nos reuníamos aos domingos, ao redor da fogueira, perto da árvore do amor (duas árvores que o vento entrelaçou, formando um só conjunto). Estranhavam o meu retiro, mas se conformavam com a desculpa que era um artista preparando uma exposição - o que não era mentira, apenas o nome era outro... E, afinal, cada qual tinha seu cada qual...

  
  A esperança estava escapando, pois sentia que o inevitável estava rondando e teria que ir para o enfrentamento - mais cedo ou mais tarde. Além da solidão tremenda e dos riscos, a paciência de todos estava no limite, eram muitas as dificuldades e despesas para conseguirmos manter todo um complicado esquema de segurança.


  Mas, no vilarejo distante, na barra do rio Maxaranguape, havia uma linda promessa morena, a formosa professorinha do lugar, que vi logo na minha chegada com a mudança ao vilarejo. A conheci algum tempo depois, em uma das minhas idas à feira local . Uma belíssima escultura viva de ébano! Confesso que a sua beleza foi o que me atraiu, destacando-a das demais moradoras daquela praia - principalmente quando retribuiu meu primeiro olhar com um lindo sorriso. Ficamos assim, em flertes fugazes que o acaso proporcionava, de vez em quando. 


   Meses depois, começamos o namoro na noite de ano novo, em romântico encontro mutuamente esperado no silêncio imaginativo do intenso e recíproco desejo, expresso na troca de furtivos olhares nos dias de feira... encontro finalmente acontecido na praça principal da cidade, quase à beira-mar, ao pipocar colorido dos fogos de artifício da colônia dos pescadores, na beira do rio.


  Sua família era muito bacana e me tratava muito bem, frequentei a sua casa - em namoro assistido... Ela além de linda e simpática era de uma simplicidade e de uma meiguice encantadoras, que encobriam sua fortaleza de caráter e seu conhecimento e gosto por história, literatura e arte - algo raro entre a gente daquelas plagas; isso realmente me impressionou e cativou. Mas nos conhecemos já próximo da minha partida inadiável e sem certeza de volta. A ela eu contei toda a verdade, recebendo em resposta seu sempre maravilhoso sorriso e um abraço, me sussurrando que já sabia, pois alguém havia lhe mostrado uma foto minha estampada em jornal paraibano... e apesar de estar disfarçado em um "louro oxigenado", ela me reconhecera (minha cara estava estampada em todos os jornais quase que diariamente, em matérias pagas publicadas por gente venal).


  No jornal que ela me mostrou, saíra a notícia de um "habeas-corpus" preventivo que me fora concedido pelos desembargadores (que eu já fora informado)... não estava mais sendo procurado e era a hora de me apresentar, de livre e espontânea vontade, como deve fazer um Homem - e não levado à força, preso. Parti então no Zeppelin prateado para cumprir a minha sina e receber o meu castigo, levando e deixando saudade. Prometi que um dia iria voltar, mas o labirinto da vida e do tempo nos desencontrou...


  Agora, sobrevoando no tempo da memória, está me dando uma enorme vontade de voltar lá; uma arrebatadora e crescente saudade... uma saudade de um amor que não houve, mas que poderia ter havido. Uma saudade do que eu poderia ter vivido...

* O "Zeppelin Prateado" é a minha nave virtual que me leva a todos os lugares do mundo e a todos os recantos da memória sem que eu saia da "caverna" (como eu chamo meu atelier).



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