Meu pai foi o Homem mais decente e corajoso que conheci.
Médico e culto, cavalheiro ou cavaleiro, dependendo da ocasião... Avesso aos "flashes" e às fogueiras das vaidades, deixou para mim a melhor herança que um Homem pode deixar para um filho: Caráter e educação.
A minha gratidão ao legado moral que esse Homem me deixou é incomensurável. Soube ser duro e afetuoso, de acordo com o meu merecimento (e o dos outros).
Durante a ditadura militar, já afastado da política, ocupou vários postos de chefia - tanto no INPS como na Universidade Federal da Paraíba, quando, por causa da sua obsessão em tratar com honestidade o bem público, "comprou" muitas brigas e arranjou diversos inimigos - que não pensavam como ele...
Apesar de seu pensamento claramente socialista (porém linha dura), Isaias era respeitado pelos militares do regime de então, que o mantiveram nesses cargos por um bom tempo, justamente pelo seu caráter honrado e a sua coragem pessoal. Durante a sua coordenação nos serviços de medicina do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social, depois INAMPS), por várias vezes pediu demissão, por não poder dar combate à corrupção entranhada naquela instituição como queria, impedido por superiores complacentes.
Nas conversas que eu presenciava entre ele e um oficial do exército, muito amigo e parente, ele expunha claramente o seu descontentamento com o regime militar.
Os militares nunca quiseram "mexer" com Isaias, que dizia o que pensava e só fazia o que queria.
Na imagem: Bruno Steinbach: "Açude São Gonçalo". Infogravura / papel sulfite 180 gr, 29,7 x 42 cm, 2013. Parahyba, Brasil.
DEPOIMENTOS
DEPOIMENTO DE DR. EILZO NOGUEIRA MATOS
(Facebook, 15 de fevereiro de 2015)
ACADEMIA PARAIBANA DE MEDICINA (28/10/1999)Elogio ao 1º ocupante: Dr. Isaias Silva
Cadeira nº 24
Por: Dr. Evandro José Pinheiro do Egypto
Radicando-se logo após sua formatura no município de Pombal-PB, onde construiu um hospital, tendo sido o pioneiro como profissional da medicina naquela cidade. Durante mais de uma década o Dr. Isaias fez história como profissional dos mais respeitáveis na região geográfica que compreende Sousa, Patos, Catolé do Rocha e Pombal. Nesta época, como médico, era eclético, atuando como Clínico e Cirurgião Geral. Porém já demonstrava forte inclinação para a Otorrinolaringologia e Oftalmologia, desenvolvendo também com habilidade atividades de Laboratorista, Radiologista e Anestesista, levado pelas circunstâncias sociais impostas, à época , ao médico do interior.
Em meados dos anos quarenta, ingressa na política influenciado pelos primos João Agripino, José Marques da Silva Mariz e Américo Maia, bem como o seu velho pai, Basílio Silva. Sendo eleito Deputado Estadual, pela UDN, na Constituinte de 1947. Neste seu primeiro mandato foi líder do Governo Osvaldo Trigueiro e, no segundo mandato, foi líder da oposição, também pela UDN, frente ao governo de José Américo de Almeida, exercendo marcante atuação, de forma vigilante e combativa, sem jamais curvar-se ao poder e a força do então governador.
Mas o caráter e os ideais de Isaias Silva estavam bem acima dos meandros e acomodações da política, levando-o desistir definitivamente de sua militância na mesma.
Em 1953-54 Isaias já não cabia mais como Médico do Sertão, onde submete-se a Concurso Público para médico do IAPC, logrando aprovação em 1° lugar, levando a transferir-se para a capital, onde passa a dedicar-se tão somente à medicina e ao magistério.
Já em 1955 teve sua indicação para Chefe de Clínica Otorrinolaringológica, da Faculdade de Medicina, sendo o 1° Professor na citada Disciplina, ao lado do professor Cassiano Nóbrega, conforme registro do Conselho Técnico Administrativo de 16.06.1955, da mencionada instituição.
Na década de sessenta passa também a atuar como Médico credenciado do IPASE e IAPI, já atendendo em seu consultório particular como Otorrinolaringologista.
A despeito do seu perfil varonil, e de seu pulso forte nos mais diferentes cargos que ocupou, era o homem Isaias possuidor de acurada sensibilidade pelas letras e pelas artes, sendo um cultivador da literatura universal dos mestres Goethe, Anatole France, Honoré Balzac, Proust, Dostoievski, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, entre os mais apreciados, tendo em Humberto de Campos como maior cronista da língua portuguesa, conforme abalizado e realístico depoimento de sua filha e admiradora, Professora Márcia Steinbach Silva Kaplan. Outra grande paixão era pela música erudita, representada por Chopin, Brahms e Beethoven, cujas peças para piano gostava de ouvir executadas por sua primeira esposa Marieta Steinbach Silva (foto abaixo) , eximia pianista, que trocou sua brilhante carreira, em Salvador, para acompanhá-lo em seu retorno à Paraíba.
Esteve à frente de vários cargos, foi secretário de Saúde no Governo de Pedro Gondim, de quem era amigo inconteste e grande admirador, desde os tempos em que ambos eram deputados estaduais.
Com o Governador Pedro Moreno Gondim (à esquerda) e o seu vice "Zabilo" Gadelha (centro), no Palácio da Redenção, quando foi seu Secretário de Saúde. |
No âmbito da Previdência Social esteve como Coordenador de Assistência Médica e Superintendente, no então INPS, no início dos anos setenta, onde imprimiu excepcional trabalho de expansão a nível de assistência médica, quer no âmbito ambulatorial da instituição que dirigia, quer no credenciamento de profissionais, Clínicas e Hospitais.
Não menos relevante foi sua passagem no âmbito universitário, pois além de atuar como primeiro professor de Otorrinolaringologia, da Faculdade de Medicina, sendo alçado a Professor Titular já na federalização da universidade. Tendo ocupado a Chefia do Departamento de Cirurgia, em dois mandatos. Esteve à frente de várias Comissões para mudança do currículo do curso médico e participou de inúmeras Bancas examinadoras em universidades outras.
Na qualidade de membro da comissão de implantação do Hospital Universitário, empreendeu viagem a Alemanha, a fim de conhecer e avaliar sua rede hospitalar, preparando-se para emitir parecer sobre importação de material médico cirúrgico, em missão oficial pela Universidade Federal da Paraíba.
Vindo a se aposentar em 1985, beirando os setenta anos, recolhendo-se ao merecido descanso de uma vida marcada por extrema labuta, nos mais distintos campos que atuou, sempre com a sua marca da impetuosidade e bravura. Assim, pôde mergulhar de forma mais profunda e tranquila nas suas leituras tão afeitas à sua personalidade, assim como ao deleite da boa música clássica, bem compartilhada com a Dra. Maria Dalva Machado Silva, com quem casou-se em segunda núpcias, médica ginecologista bem atuante em nossa cidade, parte integrante nessa nossa justificada homenagem.
Na fazenda da família (Fazenda Humaitá, do "Coronel" Basílio Silva, meu avô, em Sousa-PB). |
No sertão da Paraíba, caçando. Pelo armamento, acho que estavam caçando bandidos... Anos 30. Isaias é o segundo da esquerda para a direita. |
Isaias em nossa granja "Humaitá" (Gramame/Gravatá-PB), anos 70, com sua segunda esposa a médica Maria Dalva Machado Silva, seu genro José Alberto Kaplan e a filha Márcia. |
Está ótimo o trabalho que você realizou, Bruno e muito fiel ao perfil d papai. Parabéns!
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